Há cerca de 20 anos, chegou a Portugal um brasileiro que se viria a tornar num dos melhores avançados de sempre da História da Liga portuguesa. O jogo não mais voltaria a ser o mesmo com o Super Mário em campo, e com Jardel nas 4 linhas os golos do Porto e do Sporting eram quase garantia em todos os duelos. A poucas horas do clássico entre dragões e leões, resta a André Silva e Bas Dost abrirem a boca de espanto perante o inesquecível matador que aparecia sempre no sítio certo para dar o tal último toque que tantas vezes balançou as redes.

Mário Jardel: do Dragão a Alvalade sempre a marcar

Em 1996 o Presidente do FC Porto, Pinto da Costa, fechou possivelmente um dos contratos mais emblemáticos da História do clube. Nessa época chegou um gigante brasileiro que tinha sido contratado para reforçar o ataque azul e branco. Mário Jardel era jovem e não tinha qualquer experiência a jogar no futebol europeu, tendo gerado alguma desconfiança entre os adeptos portistas. No entanto, a desconfiança rapidamente daria lugar à euforia, uma vez que Jardel mostrava ter cabeça para levantar o então Estádio das Antas.

Enquanto avançado, Jardel evidenciou desde cedo aptidões únicas para finalizar e não precisava de muitas oportunidades para facturar: tratava-se de um feroz matador tremendamente eficaz. Marcar Jardel era uma tarefa ingrata para qualquer central, bastando um mínimo descuido para que o Super Mário pudesse contornar o opositor e, por fim, festejar. Na memória dos portistas está, por exemplo, o magnífico golo marcado ao Benfica em 1997, o inesperado tento ao Real Madrid, ou até os 7 tiros certeiros num só jogo numa eliminatória da Taça de Portugal.

O percurso de Jardel no Porto fala por si e o brasileiro somou títulos atrás de títulos, tendo conquistado 3 campeonatos, 2 Taças de Portugal e 3 Super Taças. A inteligência a voar entre os centrais jamais será esquecida entre os portistas e o legado de Super Mário está fixado em 168 tentos de dragão ao peito, um registo incrível e que deixa saudades à família portista.

A perícia e o instinto goleador de Jardel não tardou em despertar o apetite do Sporting, e Super Mário tornou-se leão em 2001 depois de uma experiência pouco feliz no estrangeiro. Em Alvalade, Jardel gerou curiosamente alguma desconfiança, mas bastou apenas marcar o primeiro golpe de cabeça para que os sportinguistas ficassem rendidos aos dotes do mortífero goleador. No Sporting, Jardel rugiu bem alto e compôs uma dupla fantástica com João Pinto, em que o brasileiro era apelidado de pai e o português de filho. Foram golos para todos os gostos: de grande penalidade, na sequência de cantos ou em bola corrida e, tudo somado, eis que atingiu os 42 golos só na Liga lusa 2001/2002. Ao todo, Mário Jardel marcou 67 golos, tendo sido fundamental para a conquista do campeonato e da Taça de Portugal pelos verde e brancos.

Individualmente, Jardel venceu uma emblemática Bota de Ouro em 2002 e, à imagem do que ocorreu na invicta, deixou seguramente saudades aos leões. A carreira do notável avançado não mais voltaria a atingir a excelência, mas a memória e os feitos do dianteiro ninguém poderá apagar. Não é fácil marcar golos, mas ao observar a forma simples com que Jardel o fazia dava a sensação de que era peanuts. Para um extremo, cruzar um esférico para uma grande área onde Mário morava era só por si meio golo.

O instinto, a astúcia, a técnica e a paixão pelo futebol levaram Jardel a entrar na História do desporto rei, e a poucas horas do Porto x Sporting fica assim aberto o baú das recordações de um avançado que deslumbrou dragões e leões com todo o seu esplendor goleador.