Sabia-se ainda antes de soar o apito nesta primeira mão em Alvalade que o sorteio poderia ter sido mais ‘meigo’ para o Sporting, que a separá-lo da Liga dos Campeões encontra o poderoso CSKA de Moscovo, líder da Liga russa e um clube de características completamente díspares em aspectos como a aposta na formação, que num largo período de tempo até aos dias de hoje caracteriza o Sporting e em nada diz respeito a este CSKA.

Mesmo com uma mudança de paradigma que conduziu este leão à contratação de futebolistas de experiência superior, a utilização de jogadores como Carlos Mané e Gelson Martins, que entraram precisamente ao mesmo tempo durante a segunda parte, continuam a separar os dois adversários nessa aposta em futebolistas com ADN de clube.

No plano estritamente desportivo, vitória para o Sporting numa exibição longe de ser perfeita por parte do leão, que controlou na maior parte do tempo mas também ‘saiu’ do encontro em várias ocasiões, o que poderia ter valido alguns amargos de boca tendo em conta os perigos que advieram da asa esquerda moscovita face à associação de dois problemas, a notável exibição e velocidade de execução do jovem nigeriano Ahmed Musa e a desastrada prestação de João Pereira.

Contratado no início da época numa transferência sem custos, o internacional português continua sem realizar exibições que justifiquem a sua condição de titular mesmo que o seu estatuto perante Jorge Jesus seja o de intocável. No entanto, causa alguma estranheza o facto de uma perspectiva de talento como Ricardo Esgaio, recentemente sagrado vice-campeão europeu em sub-21 e uma das referência na posição de lateral direito nessa prova, não tenha agora sequer uma oportunidade.

Continua a falar o médio defensivo tão apreciado por Jesus, como testemunha a sua passagem pelo Benfica

Várias foram as prestações individuais de qualidade, como Rui Patrício, que ao contrário de alguns momentos de ‘calafrio’ vividos na época passada em alguns encontros da Liga NOS esteve a um nível elevado e defendeu mesmo uma grande penalidade, André Carrillo, que se revelaria decisivo na forma como encontrou uma forma de assistir Islam Slimani para o golo da vitória, e Bryan Ruiz até se ‘apagar’ e com isso perder as suas possibilidades de procurar a expulsão do seu marcador directo.

Mário Fernandes, admoestado com um cartão amarelo precisamente por ter insistido com frequência no jogo faltoso, poderia ter diminuído as possibilidades do CSKA, que tirou proveito dos espaços existentes no meio-campo defensivo sportinguista, onde continua a faltar William Carvalho, um habitual titular não só em Alvalade como até na Selecção Nacional.

Ninguém se terá lembrado de fazer essa questão a Jesus, que certamente admitiria a falta que continua a fazer-lhe um verdadeiro médio defensivo que na sua passagem pelo Benfica sempre teve em Javi Garcia, Nemanja Matic e até na fase final da última época em Ljubomir Fejsa, o que ainda assim não impediu que os verde-e-brancos tenham assumido o encontro para alcançar uma vantagem que apenas não é maior devido a uma arbitragem infeliz.

Agora sim, será de esperar a mesma convicção por parte do Sporting, pelos seus dirigentes e adeptos, que é habitualmente visível para criticar os árbitros portugueses em situações semelhantes nas competições nacionais para dar conta da desastrada arbitragem daquele que para a UEFA neste momento é o melhor árbitro europeu, Cuneyt Çakir.

Prova-se assim que não serão os árbitros portugueses que são corruptos, erros existem em todo o lado e alguns serão mais graves do que outros. Estes, é um facto, foram graves e partiram daquele que seria um árbitro de insuspeita qualidade numa eliminatória que os leões poderiam ter praticamente resolvido.

Garantir-se-ia praticamente a entrada na Liga dos Campeões e o notável encaixe financeiro que Bruno de Carvalho procura, assim como o rendimento desportivo que Jorge Jesus tanto busca depois de ter dado por finalizado um relacionamento pessoal e profissional bastante frutuoso com Luís Filipe Vieira.

Dupla de centrais que venceu a Taça UEFA poderia ter sido desfeita, assim a equipa de arbitragem tivesse acertado

Sem exageros, o caudal ofensivo sportinguista tornaria merecida pelo menos a obtenção de mais um golo mas de qualquer forma poderia ter-se atingido um resultado ainda mais desnivelado caso o juiz da partida tivesse sancionado as duas grandes penalidades favoráveis à equipa portuguesa e procedido à expulsão de Vasily Berezutsky, o autor das duas faltas que seria em virtude disso afastado do encontro da segunda mão, e em rigor até de Seydou Doumbia.

Doumbia ou Mário Fernandes identificam-se como jogadores importantes, mas em especial a ausência de Berezutsky representaria uma forte contrariedade para o CSKA ou não formasse esse jogador uma dupla de centrais com Sergey Ignashevich que tem a duração, imagine-se, de mais de uma década - era já esta a dupla defensiva, então jovem e altamente promissora, quando a equipa russa se deslocou a Alvalade para levantar a Taça UEFA.

Hoje em dia, em Agosto de 2015, este dupla profícua poderia ser obrigada a separar-se, o que não sucede apenas por mera incompetência. Desta forma, assim como por várias vezes chegou a colocar em causa a sua liderança na Luz, o espectro de uma possível eliminação europeia volta a colocar-se para Jesus quando a exibição do Sporting até foi pouco mais do que mediana.

No entanto, a eficácia do futebol leonino foi bastante superior à regularidade da exibição e a prestação da equipa de arbitragem bastante abaixo da qualidade dos restantes protagonistas - veremos se com custos ou consequências para este representante luso na Europa futebolística.