Após o clímax do campeonato 2014/2015, muita transformação ocorreu no espectro do futebol português - a principal prendeu-se com a saída de Jorge Jesus do Benfica, com o treinador a separar-se do clube que o elevou ao mais glorioso estatuto de timoneiro vencedor. Com três ligas nacionais no currículo, Jesus abandonou a Luz e entrou no reino do Leão, com intuito de regenerar de vez o grande Sporting. A viagem, curta, abalou o estado emocional dos benfiquistas e deixou em polvorosa a eufórica massa adepta leonina.

Verão quente, condimento predilecto para a Supertaça das emoções

Subitamente, o Verão quente de 2015 inverteu os resultados do barómetro emocional: se o Benfica acabara em beleza a temporada, festejando o título e festejando no Marquês, o Sporting, em grave tumulto interno, acabara de conquistar o único troféu da época mesmo no culminar da guerrilha surda entre o presidente e o treinador Marco Silva, tendo no colo um futuro feito de incertezas. Mas o golpe leonino na águia marcou a tendência ascendente do Leão, que ganhou opulência psíquica e ânimo triplicado, em oposição a um Benfica surpreendido, fragilizado e em obrigatória redefinição técnica.

O andamento das contratações de Verão apenas reforçou tais contrastantes estados de alma: no Sporting, a abundância de reforços juntou-se à inegável qualidade de activos experientes como Bryan Ruiz, Teo Gutiérrez, Alberto Aquilani ou João Pereira, abundância que não grassou pelos lados da Luz. Para Vitória ver, realmente, apenas Mehdi Carcela prometia reforçar directamente o onze das águias, com dubiedades como Marçal, Adel Taraabt e jogadores que nem aqueceram lugar na Luz, como Diego Lopes. A acentuar a desmotivação benfiquista, as pesadas saídas dos carismáticos Maxi Pereira e Lima, peças-chave do Benfica de Jesus.

Mais que uma Taça, o prelúdio de uma batalha que se prevê longa

Na antecâmara da Supertaça Cândido Oliveira, o duelo Benfica x Sporting será um notável e mediático prelúdio da batalha entre os rivais de Lisboa durante a temporada 2015/2016, a primeira de Jesus ao leme do Leão e a primeira dos encarnados sem o treinador experiente no banco, seis anos após a sua chegada, em 2009. Jorge Jesus leva para o Sporting o «know-how» que o notabilizou no Benfica e Rui Vitória tem finalmente, aos 45 anos, a oportunidade de ouro para deixar a sua marca num grande clube português. Rapidamente se entendeu que Jesus transportou o seu 4-4-2/4-2-4 para Alvalade, enquanto Vitória pondera implementar o seu habitual 4-2-3-1.

Que figurinos tácticos prevalecerão nas novas eras técnicas de Benfica e Sporting? O Sporting irá beber do 4-4-2 basilar de Jorge Jesus, que se costuma desdobrar num 4-2-4 pleno de ideologia ofensiva (por vezes em 4-1-3-2 com pivot defensivo destacado). Na verdade, a pré-época dos Leões já demonstrou as intenções tácticas do novo treinador, que serão uma cópia das ideias por este implementadas no Benfica durante seis anos. Rui Vitória equaciona sistematizar o seu 4-2-3-1 na Luz, modelo praticado no Vitória de Guimarães, apesar de ter exercitado a táctica 4-4-2, rasto de Jesus, durante os jogos da pré-temporada.

Jesus - Vitória na Supertaça

Vitória e Jesus manter-se-ão fiés às suas preferências tácticas

Rui Vitória terá de moldar o novo Benfica sem elementos fundamentais como o combativo Maxi Pereira, dinamizador da lateral direita, e Lima, avançado móvel capaz de batalhar pela bola e pelo espaço livre, dando largura e profundidade ao ataque dos encarnados. Sem Lima, o expectável figurino táctico do Benfica deverá situar-se no 4-2-3-1 com apenas um avançado de referência, Jonas, e Talisca no apoio ao brasileiro; na esquerda pontificará o organizador Gaitán (que se envolverá no miolo para criar desequilíbrios) e na direita surge a dúvida: Pizzi ou Carcela? Na base do meio-campo, outra dúvida quanto à dupla de pivots: quem acompanhará o titularíssimo Samaris, Fejsa ou o próprio Pizzi?

Jorge Jesus parece ter menos dúvidas, já que o onze leonino caminha a passos largos para a definição clara: João Pereira saltará directamente para o lado direito da defesa, assim como o reforço Naldo, que fará companhia a Paulo Oliveira no eixo defensivo. No miolo do 4-4-2 de Jesus, Adrien fará as vezes de William Carvalho, tendo o apoio do médio dinâmico João Mário, de quem se espera trabalho redobrado para suster o meio-campo numericamente superior do rival. Bryan Ruiz deverá ocupar a faixa esquerda do meio-campo (derivando para a faixa central) e Carrillo deverá ganhar a corrida a Carlos Mané na lateral direita. A única dúvida: Gutiérrez ou Montero no apoio a Islam Slimani?