Crónica VAVEL

Quanto maior a subida, maior a queda. A frase feita assenta que nem uma luva no sonho que a Armada Espanhola 2014/2015 foi, a espaços, alimentando nos adeptos portistas. A queda foi grotesca, é certo. Todos os cenários que se anteciparam com uma possível vitória do Benfica não só no campeonato mas, sobretudo, na época (confrontos diretos, taças, campanhas europeias e futebol jogado também entram nas contas não só dos adeptos, mas de quem decide o futuro dos treinadores) confirmaram-se.

Pinto da Costa foi, este ano, derrotado por Jorge Jesus

O Benfica parte para a próxima época bicampeão após 30 anos de hegemonia azul, com o melhor treinador no panorama do futebol português (sim, só do futebol português) e, mais do que nunca, o banco do Dragão é um lugar incómodo. Neste contexto, qual será a melhor alternativa para o FC Porto? Provou Julen Lopetegui assim tanta incompetência enquanto treinador e enquanto líder que justifiquem o seu despedimento, depois de tanto investimento nas suas ideias?

Qual é a alternativa para o FC Porto?

Contratar um treinador novo, com ideias novas, jogadores novos e dar-lhe a obrigação (obrigação sim, porque se Lopetegui não tem margem de manobra com os momentos bons que existiram esta época então perdoem-me mas nenhum treinador a terá) de ganhar o campeonato ao fortíssimo, experiente, tranquilo e, mais do que nunca, autoritário Benfica de Jorge Jesus? Parece-me mais que evidente que aquela ideia que, principalmente desde os anos 90,  se foi criando de que qualquer treinador se arrisca a ser campeão no FC Porto está hoje completamente errada. Hoje há concorrência e a concorrência é forte.

Nem tudo foi mau na época dos dragões

Os números dizem que o FC Porto tem sensivelmente a mesma média de vitórias que o Benfica (70% do Benfica, 69% do Porto), uma média de derrotas inferior mas (14% do Benfca, 9% do Porto); se a tradução dessa regularidade não existe, isso só prova que a equipa falhou nos momentos capitais e não é de vitórias morais que reza a história. Será que a incompetência do treinador, por si só, explica esses falhanços nos momentos decisivos? A inexperiência de Lopetegui pode explicar alguma coisa mas, se uma equipa vai até aos quartos-de-final da Liga dos Campeões (o melhor que Jorge Jesus conseguiu fazer em 6 épocas de Benfica) com um dos melhores scores da Europa e, mesmo no campeonato, tem a melhor defesa e a melhor série de jogos sem perder, o treinador tem de ser competente.

Será que uma equipa com 17 jogadores novos, uma média de idades muito inferior à do seu rival, um treinador que nunca esteve a este nível e que vê, no seu rival, o Catedrático do Futebol Português não são fatores que, mais do que a incompetência de Lopetegui, expliquem o sucesso do Benfica? É fácil dizer que este ano o investimento foi muito grande, mas não é tão fácil lembrar que Lopetegui foi quase o único treinador de todo o reinado de Pinto da Costa a ter um contrato de 3 anos... Isso pode querer dizer alguma coisa, talvez queira dizer que, quando se enfrenta um adversário tão forte, é preciso um projecto. Um projecto a sério e não uma aposta mágica de um treinador maravilhoso, mas que ninguém conhece e que chegava aqui, revolucionava tudo em Portugal, humilhava Jorge Jesus e ia embora. Os tempos de Mourinho e Villas-Boas já lá vão e há um factor que explica isso, mas que muita gente teima em ignorar. O Benfica é forte. Jorge Jesus já não é o mesmo treinador que foi jogar ao Dragão com o David Luiz a defesa-esquerdo.

As pessoas que, hoje, pedem a cabeça de Lopetegui, são as mesmas pessoas que não vêm as semelhanças do espanhol com o Jorge Jesus do tempo em que Vítor Pereira ganhava campeonatos com Janko e Kléber a discutirem o lugar de ponta-de-lança.

Nessa altura o investimento e a qualidade dos planteis era igual?

Nessa altura Vieira não foi o único visionário que, friamente, consultou os números, a regularidade que só falhava no momento final, e chegou à conclusão que um treinador com potêncial podia aprender com os seus erros?

Não pode estar, Pinto da Costa, hoje, na mesma situação?

Ainda é muito cedo para dizer se a aposta na continuidade é acertada ou não. Se este ano era chave para o FC Porto, o próximo é chave para Lopetegui mas, hoje, eu percebo a aposta de Pinto da Costa. Para mim, um Lopetegui que em vez de construir uma equipa com 17 novos jogadores, consiga gerir a Sua equipa com 7/8 alterações no plantel tem todas as condições para calar muitas bocas e provar o porquê de Pinto da Costa ter visto nele o Homem certo para discutir o trono do futebol em Portugal com Jorge Jesus. Se me enganar, cá estarei para o reconhecer mas, para a próxima época prevejo mais um duelo muito intenso entre Lopetgui/Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira/Jorge Jesus, duas duplas que prometem aquecer e muito o futebol português no próximo ano.

Ah...E convém lembrar que o tempo em que o Sporting ficava a 30 pontos do primeiro lugar (se Bruno de Carvalho tiver juízo e não estragar o que de bom já fez em duas épocas seguidas), também parece já ter acabado. Para quem diz que o campeonato português não está competitivo.