O Paços de Ferreira, em clara ascensão na tabela classificativa e numa forma exemplar, invadiu ontem à noite o Estádio de Alvalade sem pedir licença e, sem pudor, espraiou o seu futebol com contundência e tranquilidade, jogando a toda a largura do campo leonino e impedindo o Sporting de pegar no comando das operações da partida. O golo pacense, marcado por Hurtado, foi o corolário lógico de um domínio que apenas foi contrariado na segunda parte.

Ao golo pacense marcado na primeira parte, marcado a passe soberbo de Minhoca (caído entre linhas leoninas) respondeu o Sporting na segunda metade, com um golo do recém-entrado Fredy Montero, que mostrou aos colegas como se bate um guarda-redes confiante como Defendi. O golo do colombiano deu expressão à elevação do Sporting, que na segunda parte empurrou a pressão pacense e pegou nas rédeas da partida.

A ineficácia dos Leões foi, na recta dos 15 minutos finais, a sua grande inimiga. A divisão de pontos em Alvalade premiou a temperança dos Paços de Ferreira e lançou o Leão na depressão doméstica. O Sporting está agora na sétima posição da Liga, a oito pontos do líder Benfica, seis do Vitória SC e cinco do FC Porto.

Primeira parte: Paços seguros no relvado do passivo Leão

Assim se narra e resume a primeira parte: um Paços calmo, de lição na ponta da língua, trocando a bola e pensando nas melhores formas de magoar o Leão passivo, que se limitou a ver jogar. Bola no pé, posse tranquila, combinações bem coordenadas e controlo da pulsação do meio-campo, assim foi ganhando o jogo a formação de Paulo Fonseca, que explanou o seu futebol sem preconceitos - o golo do peruano Hurtado (32 minutos) é reflexo dessa desenvoltura.

Apesar de não se mostrar acutilante na finalização (até foi o Sporting a ameaçar Defendi, tiro de João Mário) o Paços foi controlando o ritmo da partida e roubando as segundas bolas ao Sporting, manietando dessa feita o domínio territorial e, consequentemente, a posse de bola. Seri, pivot defensivo rijo e activo, ofereceu consistência ao miolo pacense, enquanto Minhoca, posicionado entre as linhas leoninas, davam boa dinâmica à manobra forasteira. Pelo meio, Sérgio Oliveira representava, e bem, o papel de elo de ligação.

Segunda parte: Sporting acordou com injecções de Mané e Montero

Marco Silva agitou a equipa ao intervalo, injectando as soluções de Fredy Montero e Carlos Mané, tirando o trinco William Carvalho e o amorfo e inconstante Carrillo. A equipa reagiu de imediato, como num despertar característico de exibições doutros tempos: maior mobilidade, maior velocidade, maior ímpeto ofensivo e melhores manobras atacantes na altura de confundir as marcações do Paços de Ferreira. A entrada de Montero fez a diferença, já que o colombiano, dotado de grande versatilidade e inteligência táctica, baixava para zonas de ninguém (entre a linha da defesa e do meio-campo) para combinar com Nani e Mané.

O golo foi, portanto, uma directa consequência de um onze bem mais apto que aquele que entrara na primeira parte. Montero, em zona morta, disparou de longe para um belo golo (49 minutos), contando igualmente com um posicionamento deficiente de Defendi, claramente apanhado de surpresa pelo tiro espontâneo. À medida que o Sporting crescia, sentia-se, em sentido proporcionalmente inverso, a descida do Paços no terreno, mais encolhido devido à maior dinâmica dos reforços colocados pelo técnico leonino.

Depois do Paços, foi a ineficácia a condenar o Sporting

No fim, foi o desperdício que marcou pontos, e tanto o Sporting falhou que de pouco se poderá queixar a não ser da sua própria ineficácia. Numa altura em que o Paços de Ferreira já se acometera à sua grande área, reduzido que estava a dez elementos (expulsão de Sérgio Oliveira, duplo amarelo aos 74 minutos), o Sporting fez questão de criar golos e falhá-los de forma clamorosa e repetida: Slimani (fraquíssimo na pontaria) até desperdiçou o 2-1 num lance em que a baliza para si se escancarou, depois de passe soberbo vindo do flanco esquerdo.

Mas, apesar da descoordenação leonina, as redes de Defendi balançaram mais que uma vez: o lance de golo de Montero não foi validado, aparentemente mal, já que o pequeno colombiano estava em posição regular (apesar de Slimani se ter feito ao lance) - seria o 2-1 e o bis do ontem suplente Montero, em clara ascensão de forma. O Paços limitou-se a sofrer na recta final - apoiando-se numa grande exibição defensiva do central Ricardo - encolhido num anti-jogo moroso que só acabou aos 96 minutos, aquando do apito final.

Oitos pontos - uma espécie de depressão classificativa

O Sporting, candidato ao título, vê-se agora a uns largos oito pontos do líder destacado Benfica, tendo uma desvantagem de seis pontos do Vitória SC e cinco do FC Porto. Depois da euforia europeia (alimentada por uma brilhante exibição contra o Schalke 04) o Sporting mergulha, depois da pesada derrota em Guimarães, numa espécie de depressão típica de quem luta pelo título mas vê o topo desaparecer lentamente no horizonte.