O Benfica tarda em mostrar créditos alé-fronteiras. Ontem, às mãos do Bayer Leverkusen, os encarnados cederam à pressão total da formação de Roger Schmidt, acabando por sair do BayArena com uma derrota de 3-1. As «águias» transpareceram uma pobre imagem de si, apresentando um futebol encolhido e redudante. À segunda jornada, o Benfica continua a demonstrar estar abaixo dos padrões exigíveis para competir na Liga dos Campeões: dois jogos, duas derrotas inequívocas.

Bayer: pressão alta e indomável

O domínio do Bayer foi um padrão que pautou a grande maioria dos 90 minutos. Com uma forte pressão a cada metro quadrado do campo, os alemães diminuíram as áreas de construção do Benfica, reduzindo o tempo de reacção dos jogadores encarnados e limitando totalmente as suas acções. Kiessling com o seu poderio físico, Son Heung-Min com a sua velocidade entusiasmante, Çanalhoglu com a sua inteligência táctica e Bellarabi com o ímpeto de ruptura que o caracteriza - assim se foi reduzindo a manobra encarnada.

O Benfica ficou espantado pela uniforme subida do Bayer no terreno e pelas consequentes investidas, não só ao portador da bola mas também aos espaços livres. Incansáveis, os jogadores do Bayer fecharam a porta ao pensamento construtivo dos encarnados, colocando sob nervosismo todos os jogadores que tentavam manobrar uma saída de bola - a desconexão entre a linha defensiva e o meio-campo (Cristante e Enzo, principalmente) foi a consequência lógica. As perdas de bola sucederam-se e a ocupação dos espaços foi deficiente, com e sem bola.

Benfica: construção comprometida, ordenação defensiva idem

Jorge Jesus resolveu operar algumas alterações ao onze habitual, jogando Cristante para as feras (primeira titularidade num jogo da «Champions»), e colocando André Almeida na lateral direita da defesa, com Maxi no descanso; Derley também gozou da titlaridade, com Lima no banco. Se com estas novidades o Benfica já teria que se haver com a inexperiência táctica do jovem italiano ex-Milan, pior ainda ficou com a imparável pressão esquemática do Bayer. 

A zona afecta ao corredor central foi desbaratada por esses dois factores, que se aliaram para piorar ainda mais o cenário encarnada em Leverkusen. Cristante perdido em campo, Jardel sem poder para circular a bola com efectividade entre a última linha, Enzo num limbo entre o dever defensivo e a incapacidade na construção, Eliseu sem concentração defensiva e uma gritante indisponibilidade para encontrar uma solução ofensiva - nem a tentativa de jogo directo resultou.

Dois golos lógicos puniram um Benfica manietado

O primeiro golo é o espelho de um meio-campo curto e impreparado estruturalmente para segurar adversários pressionantes e aguerridos na disputa da bola. O Benfica perde o pé no miolo e nunca consegue, na jogada em questão, equilibrar os pratos da balança, sequer impôr uma pressão que pusesse em causa a progressão do ataque germânico - os poucos jogadores encarnados limitaram-se a recuar perante a subida oponente.

No momento da fuga do atacante do Bayer, o Leverkusen lança imediatamente 4 jogadores na manobra rápida (do meio-campo para a frente) contra apenas 5 do Benfica. A linha de quatro fica totalmente desprotegida devido à ausência de cobertura da linha média encarnada, que, por ser reduzida a Cristante e a um médio de organização e transição, fica normalmente exposta quando enfrenta adversários dispostos a pressionar a preceito (especialmente se jogarem com 3 ou mais jogadores no meio).

No segundo golo, viu-se de modo elucidativo outro dos «modus operandi» da formação alemã: subidas arriscadas, pressão estrutural sobre as linhas do Benfica, bola longa e combate individual contra os marcadores. Podemos verificar que, na génese do lance do golo está um passe longo para o último terço do campo, com nada mais nada menos que 6 jogadores da casa alinhados no ataque, como que 'marcando' a defesa contrária. 

Ao implementar este plano, o Bayer empurrava o Benfica para trás, obrigando-o a dar-lhe o espaço necessário para tais passes longos, onde, dada a descoordenação defensiva e posicional encarnada, não seria complicado ganhar a bola e construir a partir da zonas avançadas - o segundo golo é assim criado, beneficiando das facilidades dadas pelo Benfica, desunido, desconjuntado e minado nas suas zonas mais recuadas pelas invasões dos alemães.

Dentro da descoordenação do Benfica esteve também a fraca prestação de Eliseu, sempre apanhado fora da acção. No lance do primeiro golo, Júlio César compromete de modo escandaloso mas o ex-Málaga não se livra da crítica: desatento, não acompanhou Kiessling e deixou que este o ultrapassasse e fizesse, com sucesso a recarga no coração da área. No segundo golo, é ultrapassado pela boa combinação ofensiva do Bayer (ver acima); Pode-se ver acima a invasão germânica sobre as linhas do Benfica, longínquas e repletas de buracos comprometedores.

Os golos de Kiessling, Son Heung-Min e Çanalhoglu (grande penalidade) abafaram um Benfica que apenas realizou um remate digno de registo aos 62 minutos, quando Salvio, a passe de Maxi (boa subida do uruguaio, apoiando o ataque) fintou um adversário e rematou de pé esquerdo para o golo. Antes já Çanalhoglu falaram um golo cantado, rematando para fora quando apenas tinha à sua frente as redes oponentes.

Dois jogos disputados e duas derrotas sem contestação, assim se salda a participação do Benfica nestas duas jornadas da liga milionária. A equipa de Jorge Jesus continua a apresentar uma consistência fraca e insuficiente para a competitividade da «Champions». A transposição do Benfica versão nacional para o panorama internacional tem mostrado que a equipa (assim estruturada) não está ao nível da uma competitividade de nível médio-alto, algo que tem sido recorrente nas formações de Jesus ao longo destes 5 anos: apenas por uma vez o Benfica passou a fase de grupos.