Algo que toda gente já tinha percebido, mas tendo em conta aquilo que aconteceu após a avaliação interna de Fernando Gomes, a culpa da nossa triste figura residia na figura do médico Henrique Jones – já que foi a única cabeça que rolou em todo este processo. A patética e inexistente preparação ao clima, a escolha errada do local de estágio, a ineficiência física, técnica, mental (Não é Pepe) e táctica da equipa das quinas não contou para nada, já que correu tudo bem e simplesmente «não fomos competentes».

Para mim a ausência de competência explica-se, coisa que o presidente da Federação Portuguesa de Futebol não fez. Não fomos competentes na fase de qualificação, com escolhas mal feitas de jogadores em baixo de forma e com problemas físicos – para agradar certos clubes e empresários – e com a teimosia técnico táctica do previsível e incapaz Paulo Bento. O que se passou na fase de qualificação onde Portugal suou para passar num dos grupos mais fáceis de que há memória e caiu por milagre – de São Ronaldo – no Mundial 2014 foi o reflexo do que viria a ocorrer no Brasil.

Alves, Meireles e Veloso casos de jogadores que devido à idade quebraram tecnicamente, tiveram problemas físicos constantes ou por falta de competição estão longe da melhor forma. Estiveram em baixo durante a qualificação e o Mundial do Brasil mas continuam a ser lembrados por Bento.

A diferença entre a qualificação e o Mundial foi não existir um milagreiro CR7 em plena forma, já que o mau momento de Moutinho ou João Pereira, os problemas físicos de Meireles ou Postiga e a lentidão de processos de Bruno Alves ou Miguel Veloso já esteve a nu ao longo da temporada clubística e da fase de apuramento.

Bento ignorou tudo isso incluindo os «elevados índices de suspeição lesional» que diversos atletas convocados apresentavam. Obviamente tudo em prol das suas convicções ou teimosias – como lhe queiram chamar. Depois do apuramento sofredor e ainda antes do desastre na prova o amigo Gomes renovou o contrato ao parceiro Bento que desavergonhadamente não soube assumir o falhanço e bater com a porta.

Ficou e viu os seus poderes dentro da federação reforçados. Na primeira convocatória fez algumas mexidas normais para atirar areia aos olhos de quem como eu pede uma revolução e continuou o seu caminho graças à boa imprensa que dispõe. Ai se fosse Scolari ou um estrangeiro qualquer…

Bem sei que as opções portuguesas não são muitas, mas mesmo assim chamar revolução ao que fez Paulo Bento – ainda mais depois de ver os utilizados frente à Albânia – é insultuoso. Muitos dos convocados nos dias de hoje já não deveriam ser opção na selecção nacional e provavelmente se atingirmos o europeu já chegarão com prazo de validade expirado. Ora vejamos:

Na baliza Bento tem quatro guarda-redes que em condições normais disputarão as três vagas nos próximos anos: Beto (fora deste jogo por lesão), Anthony Lopes, Patrício e Eduardo; João Pereira e Ricardo Costa dois elementos que não têm minutos esta época e nem intensidade nas pernas para serem chamados à equipa A e foram titulares no confronto com Albânia. Chegarão ao Euro 2016 com 32 e 35 anos respectivamente.

Na defesa, convocar e dar a titularidade a Ricardo Costa – que está na Arábia num nível competitivo inexistente e que vai chegar ao Europeu em fim de carreira – é patético; Bruno Alves apesar de já merecer dizer adeus ao grupo só não foi chamado por estar lesionado; José Fonte vai continuar a ser eternamente ignorado ao invés de João Pereira, outro que que não fez um único minuto esta época e que já deveria ter dito adeus à selecção. Com Cédric lesionado, Esgaio ainda verde e Miguel Lopes sem competir, sobram Diogo Figueiras – novamente ignorado – e André Almeida mais ao estilo conservador do seleccionador. Antunes que foi ignorado no Mundial deve ter reaprendido a jogar porque voltou imediatamente após a competição.

No meio campo William finalmente ficou com o lugar do cansado Veloso que mesmo assim continua a merecer a confiança eterna de Bento em detrimento de nomes em melhor forma como Danilo Pereira, Gonçalo Santos ou até Rúben Neves. Meireles – outro que já devia dizer adeus – voltou a ser lembrado, assim como Adrien que mais do que ninguém deveria ser incontestavelmente o parceiro de William Carvalho no meio campo. Mas Bento sabe muito e depois de convocar Tiba, Horta e Vezo – bastou saírem de Setúbal para serem lembrados como se já antes não merecessem a chamada – fez regressar dois dos seus meninos bonitos: o incrível Ivan Cavaleiro – eu até diria o Djálo do Benfica não fosse o facto dos dois pertenceram agora ao mesmo clube – e André Gomes aquele jogador talentoso mas irregular que não se afirmou no Benfica, saiu da Luz por supostos 15 milhões de euros e ao que parece desperta a cobiça de Manchester United e do rival City. Tirando o facto de ser talentoso, irregular e não se ter afirmado de águia ao peito ninguém me convence que as restantes informações não são mentira.

É incrível deixar Danny na Rússia, Bruma na bancada e Adrien no banco para utilizar estes dois meninos que tirando o facto de pertencerem ao rol de clubes na mão de Jorge Mendes provaram 0 no futebol profissional para valerem juntos sequer 5 milhões de euros ou vestirem a camisola da selecção nacional.

Nomes como Bruno Fernandes e Ronny Lopes – dois elementos muito interessantes para a necessitada posição 10 portuguesa – continuam a ser ignorados, mesmo mostrando rendimento, em prol dos fenómenos inexplicáveis que citei. O segundo além de acrescentar muita qualidade na nossa inexistente construção de jogo, não correria mais o risco de fugir para vestir a camisola amarela do Brasil. Mas Del Bosque é que é burro por ter acelerado a convocatória do jovem Munir…

No ataque os medíocres Hugo Almeida e Postiga estão sem competir e apenas por isso apenas o desengonçado Éder foi lembrado. De salientar que dos jogadores que estiveram no Brasil e não citei, Varela – sem competir não foi chamado – e Rafa provavelmente culpado pelo que se passou no Mundial – assim como o afastado médico Henrique Jones – acabou despromovido para os sub-21 e ultrapassado por Cavaleiro e Horta nas opções de mestre Bento. Bruma é o principal craque dos sub-21 nacionais mas foi para a bancada na equipa A em detrimento do inenarrável Ivan Cavaleiro e do seu reserva na equipa de esperanças: Ricardo Horta. No banco nacional até dois guarda-redes estiveram mas o maior talento de futuro nacional foi excluído por Bento da ficha de jogo.

Como um e um são dois facilmente percebemos que não houve nem vai haver revolução nenhuma e que Bento limitou-se a colmatar lacunas de jogadores lesionados e sem minutos nas pernas por alguns meninos do Mendes FC – seja isso o Braga, Benfica, Mónaco, Deportivo, Valência ou outra coisa qualquer – e por valores interessantes do futebol nacional que foram para o banco ou para a bancada. Enquanto Portugal tiver um seleccionador que apenas sabe bater palminhas para o campo e não trabalhar as bolas paradas, as movimentações da equipa e promover alterações sérias e justas ao nível de opções não esperem muito mais do que a miséria que se assistiu na noite passada.

Bento está a mais porque não sabe mais, é demasiado limitado a todos os níveis e só motivação não chega para estas andanças. Fernando Gomes senão se apressar a promover com nova legislação, ao nível da primeira liga, os talentos lusitanos e insistir em abrir as pernas aos desmandos de Bento e Mendes vai cair mais cedo do que pensa.

Que essas três figuras desabem de uma vez por todas e Portugal volte aos trilhos com ideias e atletas novos porque nas gerações de sub-19 e sub-21 há talento de sobra, só falta pulso e coragem para arriscar. Como diz o programa de viagens da SIC Notícias: «Ir é o melhor remédio» – que este pessoal aproveite o recado e vá, mas nunca mais volte.

 

* Este texto foi originalmente publicado no projecto «Palavras ao Poste», e gentilmente cedido a VAVEL.