Episódio três de uma saga entre Benfica e Rio Ave que depois de ter decorrido nas finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal teve após as férias continuidade na Supertaça Cândido de Oliveira num momento curioso no qual ao mesmo tempo surgiria na melhor e pior altura para ambos os conjuntos.

Vejamos: para o Rio Ave, este encontro surgia na melhor altura, pois a sua equipa encontra-se já rodada por uma qualificação para a Liga Europa que mais se assemelha ao Allsvenskan, a I Liga da Suécia, ao ter já eliminado o IFK Goteborg para agora ter encontro marcado com o Elfsborg; por outro lado, o desgaste da referida eliminatória europeia podia ser pejorativo para os vila-condenses.

Por seu turno, o Benfica encarava este encontro ainda no rescaldo de uma pré-época pouco menos do que péssima e repleta de desaires, o que precipitou uma moral baixa que no entanto poderia passar a uma situação oposta em caso de vitória. Jogo simultaneamente na melhor e na pior altura, portanto, e que desde os primeiros minutos demonstrou que foi mesmo encarado como uma injecção de confiança para as águias, que entraram dispostas a marcar cedo.

Com um onze titular composto apenas por dois portugueses, Eliseu e Rúben Amorim, o Benfica conseguiu armar dois remates perigosos nos minutos iniciais por via de ter ganho com facilidade o meio-campo graças ao engenho de Enzo Perez, visivelmente motivado pela valorização conseguida no Mundial 2014 ao serviço da selecção da Argentina.

Pelo seu país, Enzo foi capaz de substituir Ángel Di María sem quebras de rendimento colectivas, regressando numa forma idêntica após as férias e em completa sintonia com Amorim, que desempenhava um papel posicional semelhante ao de Javier Mascherano na equipa argentina.

Entrada de Derley não agitou, mas deverá ser a solução para o desacerto ofensivo

A mostrar a qualidade que se lhe reconhece e sua garra sul-americana que levou o Benfica a grandes momentos na época passada, entre os quais uma final europeia na qual não pôde participar, Enzo ajudou a equipa a ganhar uma supremacia que voltava a ter continuidade aos 17 minutos, momento em que Lima arrancou um cabeceamento no entanto mal direcionado e assim longe do golo que poderia permitir aos encarnados o primeiro título de uma época que sucede a um ano de sucesso quase absoluto.

Apenas seis minutos volvidos o perigo tornava-se mesmo latente num remate duplo por parte de Toto Salvio, que viu as suas intenções de atirar a contar defraudadas primeiro pelo defensor Marcelo e depois pelo guarda-redes Cássio, que evitaram o tento que confirmaria o desequilíbrio de valores entre o Rio Ave e o campeão nacional e os seus jogadores valorizados e pretendidos nas melhores Ligas internacionais que confirmavam os seus predicados numa primeira parte de bom nível.

Ainda não se encontrava ao nível da grande equipa formada na época transacta, mas mesmo assim o Benfica dava boa conta de si, chegando a uma segunda parte que no seu início não parecia trazer grandes novidades ou não fosse a equipa lisboeta a primeira a criar algum perigo num cabeceamento de Anderson Talisca por cima da baliza adversária, naquele que foi o seu último momento de acção individual de registo antes de sair para dar lugar ao atacante Derley.

Mesmo com a mexida o conjunto benfiquista não lograva o golo, o que fazia aumentar as esperanças de uma equipa tradicionalmente sempre difícil de vergar como o Rio Ave, indicando que o esforço de Luís Filipe Vieira em «criar condições para que os jogadores tenham sucesso,» como já repetiu em diversas ocasiões, terá de continuar, faltando alguns acréscimos, mormente um atacante que ajude a garantir golos com facilidade.

Essa limitação começava a tornar-se mais notória com o passar do tempo, obrigando o lateral Maxi Pereira a recorrer à meia distância ao minuto 83 e a protagonizar um ataque muito intenso mas com pouca ciência, em especial na hora de atirar à baliza.

Com efeito, no seu primeiro encontro oficial, o Benfica voltou a mostrar algumas debilidades que poderão ser exploradas por rivais directos como FC Porto e Sporting, faltando quem apoie Lima e/ou o acompanhe no momento de visar com eficácia a baliza contrária. Para que se tenha uma real noção, os encarnados dispuseram de mais de três dezenas de disparos, nenhum deles com sucesso. Tudo se perspectiva para que as águias iniciem a Liga com dois ‘strikers’ em simultâneo, Lima e Derley.

Chegado o desempate por ‘penalties’, Artur foi um verdadeiro herói improvável

Já o Rio Ave chegava ao prolongamento com um ataque quase sempre atabalhoado que ainda assim conheceu evidentes melhoras com a entrada de Emmanuel Boateng, futebolista ainda em idade júnior que ofereceu muito esforço e brio.

A crença dos homens de Vila do Conde quase garantia a surpresa ao ‘cair do pano’ num lance de confusão no qual o central benfiquista Jardel efectuou o corte em direcção da trave da sua baliza, colocando próxima a derrota a uma equipa que na verdade joga ‘de cor’, mas ainda não faz o mesmo no momento de atacar as redes contrárias.

Face ao teimoso 0-0, apenas as grandes penalidades decidiram a atribuição do troféu que proporcionou o erguer do herói mais improvável tendo em conta o momento actual, caso do guarda-redes Artur Moraes, que com alguma raiva atirou para trás o seu mau momento ao defender três grandes penalidades, um pecúlio bem superior ao do homólogo Cássio, que apenas conseguiu travar um remate benfiquista.

Pelo Rio Ave apenas Filipe Augusto, que realizou o seu último encontro pelo clube, e Ukra, enganaram Artur, ao passo que pelo detentor da Liga, Taça e Taça da Liga foram Lima, Bebé e Luisão os conversores das respectivas grandes penalidades.

Dessa forma, o Benfica correspondeu à necessidade imperativa de conquistar a Supertaça para ‘afastar fantasmas’ – em parte, conseguiu-o, não enjeitando a oportunidade de somar mais um troféu; por outro lado, ainda terá muito que melhorar para regressar ao nível alcançado num passado recente.