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Porto europeu de Mourinho faz 10 anos de História

No final de Maio de 2004, o FC Porto ergueu a Liga dos Campeões pela segunda vez na sua História, espantando o mundo do futebol. No banco portista, um treinador português comandava as tropas azuis com pulso e confiança inabalável: José Mourinho estava nos primórdios do que viria a ser uma carreira brilhante. Dez anos depois, os «dragões» contam com mais um troféu europeu e sete campeonatos nacionais, um domínio claro do panorama futebolístico português.

Porto europeu de Mourinho faz 10 anos de História
Mourinho indicou o caminho da Champions (Foto: Reuters)
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Por VAVEL

No dia 26 de Maio de 2004, o FC Porto atropelou os franceses do Mónaco na final da Liga dos Campeões: três golos azuis derrotaram a formação monegasca, orientada por Didier Deschamps, hoje seleccionador da França. No banco oposto, José Mourinho dava os primeiros passos de uma carreira que se viria a tornar num exemplo de brio, glória e prestígio. Depois de treinar o Benfica e o Leiria, o técnico luso ingressou no Porto e concretizou, na temporada 2003/2004, um dos seus maiores feitos: erguer a taça da Liga dos Campeões.

Nos dez anos que se seguiram à épica conquista, os «dragões» deram continuidade à sua hegemonia no futebol nacional, voltando, inclusivamente, a triunfar na Europa, com André Villas Boas e os predestinados Hulk, Falcao, Moutinho e companhia. Uma década passou, e, apesar do triunfo encarnado na presente época, o domínio portista é ainda marca de água do panorama luso: o Porto venceu 8 campeonatos desde 2003/2004, incluída essa mesma temporada, onde se superiorizou ao Benfica de Camacho e ao Sporting de Fernando Santos.

Porto histórico e a rampa de lançamento de Mourinho

Os portistas deram os primeiros passos na edição 2003/2004 da Liga dos Campeões jogando num grupo com um cabeça-de-série temível: o Real Madrid de Figo, Zidane, Beckham e Ronaldo. Esse grupo G contava também com o Marselha e o Partizan. O primeiro jogo foi um empate, diante dos sérvios, o duelo seguinte pareceu condenar o Porto a uma campanha europeia falhada: derrota portista em casa diante dos merengues, por 1-3. Mas, no quatro jogos que se seguiram, a formação de Mourinho resgatou 10 pontos e garantiu a qualificação para os oitavos-de-final: a vitória forasteira (ao terceiro jogo) diante do Marselha (2-3) foi o ponto de viragem. O empate final, com o Real (1-1) confirmou a luz verde: o Porto prosseguia a caminha triunfal rumo ao combate com o poderoso Manchester United, de Alex Ferguson.

Nos oitavos-de-final, a formação de Mourinho, que dominava por completo o campeonato nacional (subjugando a concorrência sem dificuldades), disputou a eliminatória com o colosso inglês onde ponticavam nomes como Ryan Giggs, Paul Scholes, Diego Fórlan, Ferdinand, Nistelrooy e um jovem chamado Cristiano Ronaldo, que ingressara meses antes do clube orientado pelo escocês Ferguson. Depois de vencer em casa por 2-1, os portistas brilharam em Old Trafford, obtendo um empate 1-1 que valeu a passagem à fase seguinte - o golo de Costinha, nos instantes finais da partida, levou ao rubro o mundo portista e deixou de queixo caído os adeptos da casa. O golo do internacional português foi decisivo na sobrevivência do «dragão» no desafio europeu, uma autêntica injecção de confiança numa equipa já de si autoritária (acabaria a temporada com 82 pontos na Liga, mais 8 que o rival Benfica).


No trilho portista seguiu-se o Lyon, que em França impulsionava uma jornada longa de domínio do futebol gaulês. O FC Porto levou a melhor na primeira mão dos quartos-de-final, vencendo por 2-0, com golos de Deco e de Ricardo Carvalho (hoje no Mónaco). No segundo jogo, um empate a duas bolas (bis de Maniche) foi suficiente para permitir aos comandados de Mourinho avançar até à já histórica meia-final da competição: de relembrar que os portistas não levantavam tamanho troféu desde 1987, desde a final diante do Bayern Munich, vencida com um sublime toque de calcanhar do argelino Rabah Madjer. Nas meias-finais, seguiram-se os espanhóis do Deportivo, equipa sensação que, à data, lograra obter um terceiro lugar na liga espanhola (2002/2003) e viria de novo a repetir essa posição em 2003/2004.

A formação da Corunha, treinada por Javier Irureta e onde figurava nomes como Molina, Diego Tristán, Munitis, Juan Carlos Valerón, Víctor e um central luso de qualidade acima da média, de nome Jorge Andrade. O defesa português deixara o Porto no defeso de 2002, reforçando o clube espanhol ao fazer parelha com o marroquinho Naybet. O FC não foi além de um nulo em casa, resolvendo depois a eliminatória no Riazor com um golo solitário de Derlei, que concretizou uma grande penalidade: os «dragões» garantiam a final da «Champions». O adversário seria o Mónaco, liderado por craques como Giuly, Evra, Morientes, Adebayor ou Rothen.

Monegascos subjugados pelo melhor Porto desde 87

A final da Liga dos Campeões foi, às tantas, um passeio para a turma azul e branca. Os golos de Carlos Alberto, Deco e Alenitchev construiram um resultado folgado e permitiram ao Porto celebrar a sua segunda conquista na competição. A superioridade portista tornou-se evidente com o passar dos minutos, e, a partir da meia hora de jogo a toada da partida concentrou-se somente no domínio luso, que apagou a ameaça monegasca. Mourinho somava ao primeiro titulo europeu (Taça Uefa vencida no ano anterior) novo feito internacional, traçando o prólogo de uma carreira plena de sucessos. O interesse do Chelsea surgiu e a saída do treinador português foi imediata. Um dos grandes obreiros do melhor Porto desde 1987 saia assim, aventurando-se em Inglaterra, pronto para voltar a fazer História.

Dez anos de domínio incontestável

O sucesso europeu deste Porto foi acompanhado pelo título nacional de 2003/2004 e as conquistas reforçaram o clube, que se encheu de orgulho e auto-estima, continuando a dominar a cena nacional com consecutivos títulos, frustrando as tentativas dos rivais Benfica e Sporting. Na vitoriosa linha do tempo portista, apenas as temporadas de 2004/2005, 2009/2010 e a actual, não foram pintadas de azul. O Benfica conquistou esses troféus, enquanto o Sporting apenas foi capaz de celebrar duas Taças de Portugal, em 2006/2007 e 2007/2008, com Paulo Bento ao leme. De resto, o Porto obteve então 8 campeonatos (contando com 2003/2004 e a partir daí) até aos dias de hoje, arrebatando também a Taça de Portugal nas temporadas de 2005/2006, 2008/2009, 2009/2010 e 2010/2011.

O heroicismo internacional voltou com o pupilo de José Mourinho e adjunto do mesmo: André Villas Boas esteve apenas uma temporada ao serviço do Porto mas venceu praticamente tudo o que havia para vencer: começou por roubar a Supertaça de Portugal ao Benfica de Jesus, encetando depois uma liga plena de triunfos que terminou com a fácil conquista do campeonato. A Taça de Portugal também entrou no palmarés, assim como a Liga Europa, ganha frente ao Braga. Agora, na comemoração dos dez anos de História desde a conquista da Liga milionária, o Porto vê-se a braços com uma reestruturação desportiva, na tentativa de preservar a hegemonia criada ao longo das últimas décadas, ameaçada nos tempos que correm pelo Benfica.