Jackson materializou a superioridade dos portistas mas, verdade seja dita, este novo Porto recuperou alguma da vontade que perdera sob a liderança de Paulo Fonseca. Com Fernando sozinho na média defensiva e dois médios centrais de ocupação abrangente, o FC Porto espraiou-se mais no campo, contendo o miolo napolitano e obrigando os italianos a perderem a bola com relativa regularidade. Apesar da pequena alteração táctica (que tem implicações visíveis, isso é factual) a grande mudança na equipa operou-se a nível psicológico: a saída de Paulo Fonseca renovou a motivação e empurrou o Porto para um forçado novo ciclo, que terá como líder técnico Luis Castro.

O desgaste de Paulo Fonseca arrastou a própria equipa para patamares exibicionais baixíssimos, entrando num limite onde já era díficil destrinçar entre a inaptidão dos jogadores e a impreparação do treinador: toda a equipa portista estava em total «burn out», desmotivação acentuada e desunião generalizada, dentro e fora de campo. A cisão entre adeptos e equipa tornou-se completamente inegável, com os fãs azuis e brancos a demonstrarem o seu descontentamento. Ultrapassado esse momento turbulento, o FC Porto leva duas vitórias seguidas, facto que moralizou as tropas para o desafio que se avizinha, em plena Lisboa: o clássico entre «leões» e «dragões». Depois do claro 4-1 frente ao modesto Arouca, jogo que reabilitou o ego da formação portista, o Porto subiu novo degrau no processo de regeneração exibicional, batendo o imponente Nápoles por 1-0, vendo ainda um golo (mal) anulado ao médio Carlos Eduardo. Jackson rematou com prontidão, aproveitando com sagacidade um ressalto de bola: Reina pouco poderia ter feito perante o tiro do colombiano.

Jogo renhido premiou Porto mais afoito

O adversário aconselhava prudência: extremos perigosos com cartas na manga (Insigne e Callejón), um «10» topo de gama capaz de rasgar e marcar (Marek Hamsik) e um avançado de responsa (Gonzalo Higuaín). Quatro construtores de golos que teriam de ser patrulhados a todo o minuto pela defensiva portista e contidos pelo miolo azul e branco. Dentro de campo, a resposta táctica da equipa de Luis Castro foi positiva. Fernando, Carlos Eduardo e Defour impuseram pressão e debateram-se de igual para igual com a dupla Behrami/Henrique, que segurou o meio-campo napolitano e auxiliou a retaguarda composta pelo quarteto defensivo: Albiol, Britos, Ghoulam e Réveillère. Numa partida em que os guarda-redes brilharam, impedindo um «placard» avolumado, foi o Porto a rematar mais vezes, dez contra sete dos forasteiros. Nos cantos, nova superioridade: onze contra apenas quatro dos visitantes. Não admira que de um desses lances tenha nascido o tento dos da casa.

Quintero e Ghilas ameaçam saltar do banco

Um dos maiores talentos técnicos do FC Porto está contido na pessoa de Quintero, contratação efectuada no passado Verão mas que nunca chegou a efectivar-se enquanto jogador de utilidade regular. Apesar de lhe serem reconhecidas valências técnicas (capacidade de penetração, drible e remate colocado) Quintero nunca emergiu definitivamente à tona desta equipa portista, sendo devotado ao banco de suplentes na maioria dos jogos. O mesmo se passou com o argelino Ghilas, escondido, de corpo inteiro, atrás da sombra do inquestionável Jackson Martínez. A vinda de Luis Castro parece querer inclinar a navegação para outro rumo: Quintero surge amiúde nas opções do treinador, enquanto Ghilas pode esperar igualmente mais minutos de utilização. Ambos foram utilizados na partida contra o Nápoles e ambos poderão firmar um contributo mais amplo na manobra da equipa, realidade nunca concretizada na era de Fonseca.

Defour ganha preponderância

Dois jogos sob o comando de Luis Castro, dois jogos gozando da condição de titular:Steven Defour foi um dos médios utilizados pelo novo técnico e parece ter ganho a confiança de Castro para as seguintes batalhas. O belga, ex-Standard, nunca se conseguiu impôr de modo indubitável na era de Paulo Fonseca, surgindo agora com novo fulgor, pronto a provar que a sua qualidade poderá ser útil ao sistema 4-3-3: «Este treinador está a transmitir muita confiança...Sou um jogador que gosta de defender, de atacar, de fazer um pouco de tudo...», afirmou Defour, que não esconde a vontade de ser o «box-to-box» que o Porto perdeu com a saída de Moutinho. A inversão do triângulo portista poderá estar, quiçá, numa hipotética subida de forma, tanto de Defour (que ganha maior abrangência de movimentos) como de Carlos Eduardo e Fernando.

Um Porto melhor assusta sempre um pouco mais

A forma exibicional do FC Porto é ainda imberbe e periclitante, mas, a saída de Fonseca e as duas vitórias passadas ajudaram a equipa a ganhar uma auto-estima que fugira do reino do Dragão. O duelo contra o Nápoles afigurava-se como uma barreira difícil de quebrar, desafio que anteciparia e modelaria o momento psicológico da equipa antes de visitar Alvalade. Ora, depois da vitória por 1-0, os portistas visitam os «leões» com maior pujança emocional e com revigorada vontade de vencer: a defesa não concedeu golos, Defour está motivado, Fernando voltou a jogar na sua posição de eleição, Carlos Eduardo vem mostrando capacidades goleadoras (Arouca e depois Nápoles, embora o tento tenha sido anulado) e Jackson voltou aos golos, ultrapassando a seca que o abafou.

O Sporting, que passou sentado no sofá a semana europeia, assistiu à galvanização portista e terá que, perante os seus adeptos, colocar água na fervura azul e branca, não podendo deixar o rival saltar para o segundo posto da Liga precisamente em território verde. Vindo de um empate polémico que agitou as águas do futebol nacional durante esta semana, o Sporting terá de estar ao seu melhor nível para empurrar para baixo um FC Porto que vê no segundo lugar da Liga Zon Sagres o seu novo objectivo de final de temporada.

Indignação leonina e arbitragem sob pressão

O ambiente que antecipa o clássico de Domingo não é o mais calmo: na sequência do 2-2 em Setúbal, o Sporting veiculou toda a sua indignação, criticando o árbitro da partida e generalizando as suas queixas aos últimos «trinta anos», denunciando um sistema de arbitragem ineficiente e incompetente que prejudica sistematicamente a equipa leonina. Sob o comando frontal de Bruno de Carvalho, o Sporting colocou os holofotes sobre a arbitragem nacional, afirmando inclusivamente que o seu clube fora espoliado de 7 pontos nesta edição da Liga Zon Sagres: precisamente os 7 pontos que separam líder (Benfica) e a formação de Alvalade. Hoje, o clube afirmou, através de um comunicado, que avançará com queixas em sede europeia e mundial, tanto na UEFA como no organismo máximo, a FIFA.

No meio da tempestade de suspeição, novo capítulo da saga veio adensar o ambiente de tensão: Olegário Benquerença, nomeado com antecedência (terça-feira) o árbitro do clássico de Domingo, foi prontamente substituído pelo nome de Pedro Proença, devido a incapacidades físicas. O nome do árbitro de renome não é consensual entre os apoiantes sportinguistas: Proença, apesar de ver o seu valor reconhecido no estrangeiro, provoca reticências a vários clubes, casos de Benfica e Sporting, que chegaram já criticaram abertamente as «perfomances» do internacional português.