2013 está a extinguir-se, ao fim de quase 365 dias. 365 dias são muito tempo, e mesmo retirando o futebol da equação, nos seus muitos jogos e equipas e competições, são largos os números do desporto com cores portuguesas, no país e pelo mundo. São numerosos os atletas verde-rubros; às dezenas as modalidades em que se apresentam, e centenas as competições em que se batem. A maioria das modalidades, em Portugal, não tem escapado à invernia financeira e ao desinvestimento governamental no apoio aos seus atletas, mas isso não se tem revelado necessariamente nos seus resultados, com os homens e mulheres portuguesas a fazerem sucesso, apesar dos sacrifícios necessários ao longo do percurso, em solo nacional ou integrando equipas estrangeiras. A lista necessária, honrando e celebrando todos os atletas nacionais, seria muito extensa, portanto, ao jeito da fotografia, no VAVEL.com seleccionámos alguns daqueles que acreditamos serem os retratos que podem simbolizar o sucesso desportivo luso em 2013.

Ruben Faria em acção no Dakar 2013. (Foto: KTM)

2013 teve, desde logo, um início muito auspicioso para o desporto em português: logo nos primeiros dias de Janeiro, Ruben Faria, motociclista da KTM/Red Bull, terminou a mítica prova do rally Dakar na segunda posição da geral, numa corrida de 14 dias que esta edição ligou Lima, capital do Peru, e a cidade chilena de Santiago. O piloto português mostrou-se exímio e só foi batido pelo companheiro e líder da equipa, o francês Cyril Desprès, que abriu uma vantagem de 10,34 minutos para Faria. Era o melhor resultado de sempre para um português no Dakar.

O motociclo de Ruben Faria deu o mote, e Sara Moreira, na primeira oportunidade que teve, embalou as cores nacionais para novo pódio, e desta feito no lugar mais alto: no dia 3 de Março, a atleta venceu a prova de 3000 metros femininos nos Europeus de pista coberta, realizados em Gotemburgo, na Suécia. Sara Moreira, especialista nos 3000 metros/barreiras e em provas de maior distância, como os 5 e os 10 mil metros, nas quais já obtivera diversas medalhas de prata e bronze ao longo dos últimos anos, obtia a sua primeira medalha de ouro individual em campeonatos europeus. 8.58,50 foi apenas o tempo de que a corredora lusa precisou para subir ao degrau dourado do pódio, batendo a alemã Corinna Harrer por exactamente dois segundos.

  

Sara Moreira celebra vitória em Gotemburgo, 2013. (Foto: Matt Dunham/AFP)

Um dos nomes mais sonantes do desporto nacional em 2013 foi, sem sombra de dúvida, o de Rui Costa, ciclista que este ano afirmou claramente aquilo que já vinha prometendo: ser um ciclista no topo da modalidade. Ao serviço da espanhola Movistar, o corredor da Póvoa do Varzim revalidou o seu título na Volta à Suíça, tendo vencido as 7ª e 9ª etapas. Embalado pela boa prestação no país dos Alpes, o português fez história na Volta a França, ao igualar o lendário Joaquim Agostinho com duas vitórias de etapa na mesma edição do Tour. Rui Costa, campeão nacional de contra-relógio, teve um desempenho extraordinário na prova francesa, colocando-se em fugas certeiras das quais soube sair ao ataque no momento certo, às 16ª e 19ª etapas. E, não satisfeito, Rui Costa foi ainda vencer a Gala do Tour, três dias após o final da prova mais famosa do ciclismo mundial. Mas o ano de Rui Costa não estava ainda feito, e Setembro trouxe certamente a maior alegria de um ano bem recheado ao ciclista português: aos 27 anos, sagrava-se campeão do Mundo – o primeiro português a conseguir o feito −, após vitória suada na prova de fundo dos Mundiais, em Florença, Itália, onde bateu o espanhol Joaquín Rodríguez já sobre a linha de meta. As exibições de primeiríssimo nível valeram-lhe a saída da Movistar, onde o seu papel era secundário na hierarquia da equipa, para a italiana Lampre-Merida, onde será chefe de fila, na época de 2014.

    

Rui Costa no momento da vitória sobre Rodríguez, sagrando-se campeão do Mundo. (Foto: Graham Watson)

António Félix da Costa foi outro nome que se fez ouvir em 2013. Apesar de não ter conseguido o mesmo número de vitórias que alcançara em 2012, até porque competira em menos categorias e provas, entre Fórmula Renault 3.5 (pela Arden Caterham) e GP3 e Fórmula 3 (duas corridas na VisionCup e uma no Grande Prémio de Macau, onde dominou a corrida da pole position à linha de meta), Félix da Costa fechou 2013 com um terceiro lugar na Fórmula Renault 3.5, com a Arden Caterham, tendo vencido três corridas , subido aos restantes lugares do pódio por mais três vezes e terminado dentro dos pontos ainda em mais cinco ocasiões. Os bons desempenhos do piloto luso valeram-lhe a permanência no paddock da Fórmula 1, continuando a pertencer ao programa de jovens pilotos da Red Bull, que, muito por conta de Sebastian Vettel, tem dominado os últimos anos da categoria rainha do automobilismo, e sendo ocasionalmente chamado a acompanhar a "scuderia" do touro vermelho como piloto de testes ou reserva. 2013 foi, de facto, um excelente ano para Félix da Costa, que ouviu, já durante o mês de Dezembro, Christian Horner, director da Red Bull, afirmar que o português, que até esteve perto de entrar para a dupla de competição da Toro Rosso (equipa satélite da Red Bull), acompanhará a equipa campeã de 2013 como piloto de testes e reserva para a temporada de 2014. Este é mais um importante passo na carreira do jovem de 22 anos em direcção à Fórmula 1, onde Tiago Monteiro, último português que correu na categoria e que é manager de Félix, já reconheceu que o jovem pertence.

        

Félix da Costa inspecciona o seu monolugar, na box da Red Bull (Foto: AFP)

Também no mundo dos motores, Paulo Gonçalves, correndo pela Honda, foi alvo de destaque no mês de Outubro, ao sagrar-se campeão mundial de motos em todo-o-terreno, tendo vencido o rally de Marrocos. Gonçalves tornou-se, assim, o segundo piloto português a alcançar o título mundial, depois de, em 2011, Hélder Rodrigues ter marcado esse importante capítulo na história do desporto motorizado nacional, então aos comandos de uma Yamaha. Hélder e Paulo são os dois nomes portugueses de ponta que procuram disputar uma modalidade onde o domínio tem tido bandeira espanhola. Recordemos que Marc Coma (KTM) era o campeão mundial em 2012 e que, nas seis etapas da prova marroquina, Joan Barreda (Honda) foi a principal dor de cabeça do vencedor português.

          

Paulo Gonçalves competindo nas areias de Marrocos. (Foto: Reuters)

Fora do mundo das corridas, motorizadas ou não, onde 2013 foi ano de sucesso para Portugal, merece ainda especial destaque o par Leonor Oliveira e Gonçalo Roque (Ginásio Clube Português), na ginástica acrobática. O par misto venceu todas as provas nacionais que disputou, e além fronteiras mostrou-se igualmente exemplar. Em Março, conquistaram a medalha de Ouro na Taça do Mundo, realizada na Maia. No Verão, garantiram a medalha de Prata nos World Games, este ano disputados em Cali, na Colômbia. Sucesso após sucesso, Leonor e Gonçalo foram-se distinguido como um dos melhores pares mistos do mundo, na sua especialidade, sendo requisitados para várias provas privadas internacionais, nomeadamente na Bulgária e Rússia. O nome do par teve ampla divulgação nos media nacionais após as três medalhas conquistadas em Outubro, nos 26º Europeus da modalidade, em Odivelas, que ainda lhes valeu um convite do célebre e prestigiado Cirque du Soleil. Bronze em all-around, Prata na categoria de dinâmico e Ouro na prova de equilíbrio; este foi o saldo do par, cujos nomes se inscreveram na história da acrobática nacional, chegando pela primeira vez à liderança do ranking Mundial da modalidade. Este trajecto será sem dúvida sintomático do grande investimento – e sacrifício − dos clubes e seus atletas em prol da modalidade, que no EUROACRO ficou bem espelhado: além das três medalhas de Leonor e Gonçalo, Portugal conquistou ainda outras quatro medalhas de Bronze e uma de Prata, sendo este o melhor registo de sempre do país em provas europeias.

              

Leonor Oliveira e Gonçalo Roque durante prova em Odivelas, no 26º EUROACRO. (Foto: A Bola)

Por tudo isto, e pelo mais ainda que fica por dizer, nomear e elogiar neste artigo, o ano de 2013 deve ser lembrado como ano de particular sucesso para o desporto em português, prova de esforço e dedicação, do querer e ambição, de certo modo em contra-ciclo com aquele que aparenta ser o estado de espírito da sociedade portuguesa, mergulhada em crise financeira. A fasquia fica agora ainda mais elevada para o desporto nacional. Pela nossa parte, no VAVEL.com, cá estaremos em 2014, para narrar os feitos dos atletas de Portugal, trazendo aos leitores a mais completa informação e os melhores artigos sobre o desporto nacional e internacional.