A Suécia trazia uma lição bem estudada, e, salvo algumas excepções mal precavidas, a sua exibição teve pontos positivos que poderiam ter permitido à equipa explanar-se mais atrevidamente na construção de jogadas, mas tal aconteceu de modo inconsequente e muito pouco objectivo. Usando Ibrahimovic como «pivot» atacante de bolas altas e obrigatoriamente divididas, a Suécia esperava superiorizar-se pelo ar e conseguir, a partir daí, consolidar a sua táctica ofensiva: tal não resultou, de todo.

Ainda assim, os suecos mantiveram uma excelente postura defensiva e souberam, durante a maior parte do encontro, anular Cristiano Ronaldo em termos posicionais, não abrindo brechas para a velocidade e virtuosismo do craque português. Jogando num 4-4-2 com dois médios centrais rijos e industriosos, os suecos povoaram bem o meio-campo mas foram-se, pelas matizações posicionais de Portugal, desposicionando nas faixas laterais, de onde surgiram os maiores perigos lusitanos, ainda que quase sempre desaproveitados: João Pereira e Fábio Coentrão

Suécia: defender muito e errar muito pouco

Não se pode dizer que a Suécia tenha defendido mal: antes pelo contrário. Lustig apresentou-se competente na direita, os centrais Antonsson e Nilsson estiveram fortes no jogo aéreo, e Olsson foi cumprindo, até aos dois erros finais que ditaram um golo e uma bola em cheio na barra - lances ambos perdidos para Ronaldo. Pela avulsa quantidade de cruzamentos tirados pela selecção das quinas, podemos aferir que o quarteto, apesar de os ter permitido vezes sem conta, esteve bem a travá-los no coração da área. Aqui na imagem abaixo, um dos poucos erros posicionais da Suécia em processo defensivo, deixando Moutinho à mercê do passe fatal de Meireles. A forte marcação a Ronaldo permitiu abrir uma clareira bem explorada pela visão de jogo de Meireles.

Atacar timidamente: mérito português

Portugal foi bem sucedido na maioria das vezes que teve de travar contra-ataques suecos: Ibrahimovic foi um jogador perdido nos próprios espaços que suporia ter encontrado, mas que, de facto, não teve oportunidade de pisar, por praticamente não terem existido. A sua capacidade de passe e a sua visão de jogo atacante não foram utilizadas, e ter-se-á que dar o mérito ao meio-campo português e à inteligente subida da defesa, que encurtava as linhas de passe e o próprio tempo de decisão. Portugal atacou bastante neste jogo, mas por pouquíssimas viu as suas costas serem exploradas de um modo ameaçador: aqui abaixo fica um dos raros exemplos disso, com Kacaniklic a ganhar a lateral a João Pereira, que acabara de subir para municiar um ataque.

Como acima foi referido, a estrela sueca poucas oportunidades teve para poder deslumbrar, parco que foi o processo ofensivo sueco. Mesmo assim, na primeira parte, duas boas movimentações originaram perigo de golo: numa o cruzamento resultou numa remate que rasou o poste de Rui Patrício, noutra, foi o próprio guardião luso a sacudir para canto, depois de um centro de Lustig, que apanhou a defesa portuguesa em contrapé. Ibrahimovic, com uma simples simulação, tirou Bruno Alves do caminho do remate de Larsson

A virtude esteve nas laterais

Uma das chaves de ouro deste jogo foi a incursão pela faixa: Portugal usou e abusou deste recurso, potenciado pela velocidade de Coentrão pela esquerda e de João Pereira pela direita. Os dois laterais foram extremamente ofensivos em toda a partida, criando constantes dores de cabeça aos adversários, e a contagem dos cruzamentos portugueses rumo à área nórdica foi muito considerável. Actuando sempre em apoio aos extremos, de modo a criarem sobreposições nas faixas, Coentrão e Pereira foram dois grandes dinamizadores do ataque português: uma ameaça com a qual os suecos, sempre ocupados com Ronaldo, tiveram dificuldade em lidar. 

Desta insistência lateral nasceu o golo de Cristiano Ronaldo, que partiu de um cruzamento de Veloso pelo flanco esquerdo, tirado com conta, peso e medida, para a entrada veloz e destemida de Ronaldo, que bateu Olsson no duelo corporal e na antecipação. A boa largura do jogo imposto por Paulo Bento deu frutos, provavelmente da maneira menos esperada: muitos cruzamentos para a área sueca, muitas tentativas ofensivas baseadas na bola alta e no embate físico. Apesar da boa orientação defensiva da Suécia, o golo acabou por surgir, e Portugal, que tantas vezes levou o cântaro à fonte, teria de o ver partir. E assim foi.