Quando, aos 80 minutos, Diogo Jota bateu Casillas, os portistas sentiram que o pesadelo frente ao Tondela se tinha prolongado na Capital do Móvel. O dragão jogou, lutou e criou oportunidades, mas no fim o Paços saiu vencedor do duelo da jornada 29 da Liga NOS, que acabou por ditar o adeus dos azuis e brancos à medalha de prata e à de ouro (10 pontos do Sporting e 12 do Benfica).

Bateram mesmo no fundo

O FC Porto deslocou-se à Capital do Móvel com algumas alterações no 11, e a qualidade do jogo portista aumentou drasticamente; o problema esteve ''só'' na hora de bater o guardião Defendi. Uma bola na barra, um pénalti por assinalar e 3 oportunidades falhadas resumem o jogo do dragão, mas fica a sensação de que com um plantel tão forte é redutor falar só de falta de sorte.

A garra e a alma reconhecida ao Porto dos últimos 30 anos é apenas uma miragem no recente dragão de Lopetegui, e agora de Peseiro. A equipa não assume o jogo, tem erros defensivos infantis e tem vindo a demonstrar uma falta de eficácia tremenda. Em vésperas de mais um novo mandato de Pinto da Costa na presidência dos invictos, é imperativo fazer um balanço objectivo dos últimos 3 anos: o Porto não vence um título desde o longínquo verão de 2013 quando, ironicamente, o dragão treinado por Paulo Fonseca levantou a Super Taça.

As Taças que outrora prestigiaram o dragão // Foto: Facebook do FC Porto
As Taças que outrora prestigiaram o dragão // Foto: Facebook do FC Porto

Este Porto de Fonseca tinha porventura o plantel mais fraco da era Pinto da Costa, e milagres foi algo que o actual técnico do Braga não conseguiu fazer. Com a chegada de Lopetegui aconteceu o inesperado: Pinto da Costa deu carta branca para o treinador espanhol escolher totalmente o plantel, bem como gerir todo o futebol portista. É caso para perguntar a Pinto da Costa o porquê, depois do desastre da época e meia de Lopetegui, o próprio restringir todas as culpas ao treinador espanhol? É um facto que o Porto de Lopetegui era cinzento, sem chama, cauteloso em demasia e com uma rotatatividade incoerente do plantel, mas os poderes e a liberdade dada ao treinador é da total responsabilidade do presidente, que agora vem dizer aos adeptos portistas que o único vilão foi Lopetegui.

Uma época e meia de fracassos desportivos, falta de ambição e uma inexplicável forma de contratar jogadores caros, que não passavam muitas vezes de meros ''espectadores'' nas bancadas por terem ficado fora das convocatórias. Adrián Lopez, Bueno, Campaña, Angel ou Imbula são apenas 5 exemplos de jogadores em quem o ''chefe'' Lopetegui confiava, mas que afinal não passaram de flops. Quando um jogador era elogiado no Porto acontecia outro fenómeno suigeneris, por exemplo, Rúben Neves foi lançado pelo espanhol, deu nas vistas, mostrou um futebol técnico-táctico incrível, mas num instante deixou de ser opção, ficando no banco e por vezes na bancada. Em termos globais, Lopetegui foi um técnico que teve ao dispôr os craques que Fonseca não teve, mas ambos acabaram com o mesmo destino, a demissão.

Lopetegui teve tudo ao seu dispor, mas não teve sucesso // Foto: Facebook do FC Porto
Lopetegui teve tudo ao seu dispor, mas não teve sucesso // Foto: Facebook do FC Porto

Onde ficou, afinal, o mito de 3 décadas do legado Pinto da Costa? Onde não interessava qual o treinador que orientava, porque no fim o Campeão era o dragão? Talvez o golo de Kelvin que deu o título ao Porto de Vítor Pereira tenha sido um prolongamento de um pesadelo anunciado. A firmeza da direção azul e branca tem vindo a perder o fulgor de outros tempos, e seria talvez benéfico assumir responsabilidades pelas escolhas tomadas e deixar de '"passar a bola para o lado", em vez de tentar levá-la para a frente. A hegemonia do dragão está terminada, e Benfica e Sporting deixaram de ser meros peões nas mãos dos demolidores dragões. Pinto da Costa teve um percurso soberbo com campeonatos, taças nacionais, internacionais, e teve ainda performeces no mercado, com vendas incríveis, mas é hora de encarar um novo ciclo e talvez dar 1 passo atrás para dar depois 2 ou 3 à frente.

Ao Porto faltam referências, falta um verdadeiro capitão, falta alma azul e branca, e falta acima de tudo aquela sensação que dominou o futebol luso: "esta é uma equipa à Porto". Ou seja, uma equipa que luta até ao último suspiro pelo resultado e que deixa a pele em campo. Quem melhor do que Pinto da Costa que criou esta mística para devolver este domínio? É uma questão pertinente, mas o eterno dirigente da invicta tem de entender que a águia e o leão estão fortes e com projectos sólidos. Actualmente, o cenário é negro: o Porto está em 3º lugar com 61 pontos, 25 golos sofridos e 53 marcados. O Braga tem 51 pontos, em 4º lugar, e não é uma ameaça para o Porto, mas o pior está no topo... o Sporting tem 71 pontos, em 2º lugar, e o líder Benfica tem 73, ou seja, 10 pontos de distância portista para a prata e 12 para o ouro. O abismo em que o Porto caiu tem já 6 derrotas, o mesmo número, por exemplo, do 5º classificado, o Arouca.

Os números espelham a tragédia do agora dragão de Peseiro, que não teve pulso firme até agora para colocar os invictos no caminho do sucesso. Quando chegou ao Dragão, Peseiro sabia que provavelmente não tinha sido a 1ª escolha de Pinto da Costa, mas ainda assim teve a coragem, ou a inconsciência, de assumir os destinos portistas. O futebol melhorou ligeiramente, mas o Porto manteve a fragilidade no jogo que praticava. Em 3 meses de Peseiro, o Porto perdeu 4 vezes na Liga NOS, e mesmo quando a vitória lhe sorria, era sem chama e firmeza. A 1 mês de terminar a temporada, as 2 derrotas frente ao Tondela e ao Paços mostraram um Porto triste, instável e incapaz de lidar com a pressão de ver o domínio de Benfica e Sporting.

Peseiro não tem tido sucesso no comando dos dragões // Foto: Facebook do FC Porto
Peseiro não tem tido sucesso no comando dos dragões // Foto: Facebook do FC Porto

Resta o Jamor ao dragão para tentar vencer um troféu, mas a verdade é que, para voltar a ter um futuro azul, é necessário mudar drasticamente a conduta das últimas 3 épocas, que apenas causaram tristeza aos adeptos portistas, que já têm saudades de gritar com orgulho que ''estes são os filhos do Dragão'', que querem ver o Porto campeão.

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