Quando, no início da época 2014/2015, Jonas chegou à Luz, muitos foram os olhares de desconfiança que pairaram sobre o internacional brasileiro formado no Guarani. Dispensado do renovado Valência de Nuno Espírito Santo, Jonas era um jogador com o caminho livre para escolher o seu próximo destino. O regresso a casa ou a reforma milionária num qualquer clube asiático adivinhavam-se como os cenários mais prováveis para Jonas, que não tendo garantido um lugar na história do Valência, deixava o clube Che com números bastantes satisfatórios, 51 golos marcados em 156 jogos. Porém, o projecto desportivo apresentado ao internacional canarinho foi motivo suficiente para convencer Jonas a assinar pelo Benfica e a ingressar no futebol português, onde, pese que não tenha pegado de estaca no onze de Jorge Jesus, acabou por se tornar numa das principais figuras da equipa e do campeonato português.

A confirmação de um génio

Se, na temporada passada, Jonas revelou-se como uma das principais figuras do título encarnado, tendo inclusivamente sido considerado o melhor jogador da última liga, o que dizer dos números apresentados pelo brasileiro esta época. Ao todo são 38 jogos e 31 golos apontados, números que igualam a sua melhor marca desde que chegou à Europa. Se tivermos em atenção unicamente os golos apontados no campeonato nacional, então não há dúvidas que estamos na presença de um dos maiores goleadores que passou pelo nosso país nos últimos anos. É aliás preciso recuar ao último título do Sporting no campeonato, corria a temporada 2001/2002, para encontrar um avançado com números similares aos de Jonas. Fala-se claro de Mário Jardel, ponta-de-lança brasileiro que acabaria por vencer a Bota de Ouro Europeia nessa temporada, com um total de 42 golos marcados em 30 jogos no campeonato pelos leões.

Foto: Facebook do SL Benfica
Jonas soma 29 golos no Campeonato // Foto: Facebook do SL Benfica

Se Jardel era sinónimo de golos, e dele se dizia que pouco contribuía para o processo de jogo da equipa comandada por Lazlo Boloni, Jonas representa no Benfica muito mais do que os 29 golos apontados no campeonato. Jonas assume um duplo papel no esquema táctico do Benfica de Rui Vitória, funcionando simultaneamente como segundo avançado no momento de finalizar, e construtor de jogo ofensivo no processo de transição. Isto sucede porque Jonas, pese os números impressionantes que tem obtido no que a golos diz respeito, não é o típico ponta-de-lança que fica na área à espera de decidir. Talvez por isto necessite tanto de um companheiro de ataque capaz de prender os centrais adversários, um jogador que lhe garanta os espaços entre linhas para aparecer a decidir, a finalizar, a dar o último toque no futebol ofensivo dos encarnados. Foi assim com Lima, e é agora assim com Mitroglou, e isto acontece porque sozinho Jonas tem mais dificuldades em aparecer a decidir, dado que sem espaço não consegue ser tão decisivo, daí surgirem tantas vezes as vozes críticas que o acusam de não saber marcar aos grandes.

Quando Jonas tem espaço para decidir isso significa, na maior parte das vezes, sorrisos na plateia da Luz, porque Jonas é arte em forma de futebol. Dele espera-se a cada nova jogada, um novo truque, um novo toque de midas capaz de transformar futebol em magia. Servindo-se de uma capacidade técnica notável, Jonas é um predestinado que tem a seu favor o facto de decidir quase sempre bem, sabendo perfeitamente quando deve passar, ou finalizar, quando deve correr, ou em sentido contrário esperar pelos seus colegas de equipa. E isto no futebol é o factor que distingue um grande jogador de um enorme jogador, porque a tomada de decisão no futebol, tal como na vida, é o elemento capaz de traduzir em sucesso toda uma ideia. Sobre isto, Cruyff disse um dia que "o futebol é simples, o que é difícil é saber como jogar de forma simples futebol”, e Jonas sabe-o porque domina a arte como poucos, porque tem uma noção táctica excepcional que lhe permite saber antes de todos os outros como decidir. Foi assim no Bessa há uma semana, quando a dois minutos do final da partida, apareceu no coração da grande área a finalizar e a garantir novo triunfo ao Benfica, e tem sido assim na maior parte das vezes para grande alegria dos adeptos benfiquistas.

A recente chamada à selecção brasileira, onde até deve ser titular frente ao Paraguai na madrugada da próxima quarta-feira, não deixa de ser o reconhecimento da excelente forma que Jonas tem apresentado ao longo de toda a temporada. Líder da Bota de Ouro Europeia, a par de Gonzalo Higuaín, Jonas ganhou por direito próprio o direito a sonhar com um dos mais importantes troféus individuais, rivalizando neste momento com grandes nomes do futebol mundial como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, ou Luis Suárez. Internamente, a dois meses do fim da temporada, Jonas assume de forma destacada o papel de jogador em maior evidência no campeonato até ao momento. Sem ele o Benfica seria terceiro, atrás dos seus dois grandes rivais, facto demonstrativo da importância que o internacional brasileiro tem tido no futebol encarnado.

A época 2015/2016 vai ficar guardada no historial de Jonas, muito provavelmente como a sua melhor temporada desportiva da carreira. Se Jonas não é o melhor jogador do mundo, porque não o é, não deixa de ser excepcional aquilo que o brasileiro tem alcançado nestes dois últimos anos. De jogador dispensado a estrela do campeonato português, de jogador em fim de carreira a convocado da selecção brasileira e líder da Bota de Ouro Europeia, Jonas já ganhou por si só o direito a permanecer na história do nosso campeonato. e do Sport Lisboa e Benfica, como um dos maiores goleadores que passou pelo nosso país, passando a figurar ao lado de nomes como Yazalde, Óscar Cardozo, Mário Jardel ou Eusébio da Silva Ferreira.

Jonas poderá mesmo vencer a Bota de Ouro // Foto: Facebook do SL Benfica
Jonas poderá mesmo vencer a Bota de Ouro // Foto: Facebook do SL Benfica
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Sobre o autor
Marco Afonso
Mestrado em Comunicação