Analisar o Benfica versão Rui Vitória implica reconhecer o papel chave que os seus homens mais avançados têm no processo de construção de jogo, onde Mitroglou, mas principalmente Jonas, têm a missão de recuar a meio-campo para, a partir daí, desequilibrar os seus adversários. É um Benfica que aposta mais na coesão do seu bloco em detrimento da largura que Rodrigo e Lima davam ao Benfica na versão Jorge Jesus, onde era comum serem os homens a meio-campo como Enzo, Gaitán ou Markovic a aparecerem na área para finalizar. O Benfica desta época vive mais dos golos dos seus avançados porque não tem a mesma mobilidade de processos que tinha há duas temporadas. São duas ideias de jogo distintas, mas igualmente válidas, e que esperam os adeptos encarnados terminem de igual modo: Com o título de campeão português.

A mobilidade colectiva do Benfica de Jorge Jesus personificada por Lima e Rodrigo

O Benfica joga hoje à Rui Vitória, com todos os defeitos e virtudes que esta afirmação possa acarretar. É certo que as transições ofensivas continuam a ser uma das principais armas dos encarnados, mas o Benfica de Rui Vitória é uma equipa que procura a posse em vez da vertigem, que busca a segurança antes da nota artística. Analisando o benfica campeão nacional em 2013-2014, pelas mãos de Jorge Jesus, facilmente identificamos um ADN futebolístico diferente, onde, lá na frente, Rodrigo e Lima personalizavam a ideia de jogo do seu treinador assente numa constante mobilidade dos seus homens mais avançados.

O Benfica de Jorge Jesus era, à época, um conjunto que tinha na mobilidade dos seus homens mais avançados uma das principais características do seu modelo de jogo, sendo comum ora Lima, ora Rodrigo aparecerem nas alas a desequilibrar as defesas contrárias. Era um Benfica mais de transição, que apostava muito na velocidade da sua dupla atacante, que funcionava simultaneamente como primeiro elemento de pressão ao adversário. Ao todo, Lima e Rodrigo apontaram nessa temporada 25 golos no campeonato português (14 de Lima e 11 de Rodrigo), números que se justificam atendendo ao estilo de jogo deste Benfica. Funcionando num 4-4-2 clássico, com Gaitán e Markovic nas alas, e Fejsa e Enzo Perez como médios interiores, o Benfica 2013/2014 tinha em Lima e Rodrigo dois elementos chave no ataque. Mais do que golos, a sua influência no Benfica de Jorge Jesus resultava do papel táctico que tinham, funcionando diversas vezes como verdadeios abre-latas nas defesas contrárias através da sua mobilidade e cultura posicional, descaindo para as alas e garantindo, deste modo, uma maior largura a todo o futebol benfiquista.

Foto: AFP / Getty Images
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Esta maior verticalidade de processos traduzia-se numa maior diversidade de opções na hora de atirar à baliza, onde era comum chegarem a estar quatro homens em posição de remate no momento ofensivo. Assim, o Benfica campeão nacional em 2013/2014 não vivia tanto dos golos da dupla Lima e Rodrigo pois tinha o seu modelo de jogo assente numa maior rotatividade de processos por parte dos seus homens mais avançados. Esta rotatividade era depois compensada pela exemplar cultura táctica que a equipa apresentava no momento defensivo, onde cada jogador deveria interpretar cada momento do jogo, posicionando-se de acordo com o que a equipa precisava.

Um Benfica às costas dos seus avançados

Após um início de época titubeante, o Benfica de Rui Vitória é hoje uma equipa mais adulta e coesa, que tem em Mitroglou e principalmente Jonas os homens golo de serviço. Comparando com o Benfica 2013/2014, a ideia de jogo atacante do Benfica é necessariamente diferente, desde logo porque já não há Rodrigo, e Rui Vitória viu-se privado de Lima no início desta época, após este se ter transferido para o Médio Oriente. Assim, o Benfica é hoje uma equipa diferente do ponto de vista ofensivo também porque Jonas e Mitroglou são jogadores diferentes dos seus antecessores, não significando este dado que sejam melhores ou piores, sendo simplesmente diferentes.

Analisar aquilo que tem sido o Benfica 2015/2016 do ponto de vista ofensivo implica reconhecer a influência da dupla atacante helénico-brasileira em todo o jogo encarnado. De um ponto de vista objectivo, Jonas e Mitroglou valem ao todo 37 golos no campeonato nacional (24 de Jonas, 13 de Mitroglou), números que correspondem a mais de 50% dos tentos apontados pelos encarnados na primeira liga portuguesa. Mas a verdade é que a influência da dupla atacante benfiquista não se esgota nestes números.

Foto: AFP / Getty Images
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Kostas Mitroglou é o homem de área, o matador que não treme na cara dos guarda-redes adversários. Formado no futebol alemão, Mitroglou tem, apesar do seu físico corpulento, uma técnica apurada. Tudo o que faz, fá-lo com cabeça, tronco e membros, isto porque tem uma noção de espaço táctico verdadeiramente impressionante para quem veio rotulado de viver unicamente de golos. Assim, o grego não limita a sua inflência no jogo encarnado aos golos, sendo um elemento essencial no novo paradigma futebolístico do Benfica de Rui Vitória, através da sua capacidade de guardar a bola, e esperar pelos seus colegas no momento de transição ofensiva.

Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Por sua vez, Jonas é arte em forma de futebol, é o elemento capaz de diferenciar uma boa equipa de uma grande equipa. Grandes equipas fazem-se porque existem nelas grandes jogadores, homens predestinados capazes dos maiores rasgos de génio. Jonas é um desses génios que alimentam plateias, e que fazem com que se ame o futebol. Dispensado do Valência no início da época 2014/2015, Jonas encontrou no Benfica o clube ideal para retomar a carreira, e a felicidade perdida. Na Luz, o brasileiro reencontrou os golos, e assumiu-se como a principal referência atacante nestas duas últimas temporadas. Se na temporada passada apontou 20 golos no campeonato, este ano já leva 24 golos apontados em 23 jornadas! Números impressionantes, e que o colocam no top 5 da luta pela Bota de Ouro Europeia.

Mas Jonas é muito mais do que golos neste novo Benfica. É ele a referência maior de todo o jogo encarnado, sendo simultaneamente organizador e concretizador do rolo compressor em que se transformou o Benfica de Rui Vitória. É o brasileiro quem, num primeiro momento, assume a batuta da equipa, funcionando qual número dez, para num segundo momento aparecer na área pronto para finalizar. Quando Jonas não rende, a equipa perde parte da sua identidade, da sua força - isto acontece porque é Jonas quem desequilibra a partir de dentro as defesas adversárias. Dele espera-se que resolva a cada novo lance, a cada toque na bola. E ele, jornada após jornada, tem resolvido, constituindo-se até então como uma das principais figuras do nosso campeonato nesta temporada.

Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Independentemente do desfecho deste campeonato, parece claro que o Benfica 2015/2016 é necessariamente diferente do Benfica das duas últimas épocas. Para este ponto muito contribuiu a mudança da dupla de avançados na Luz, onde, em detrimento da mobilidade de Rodrigo e Lima, surge agora um Benfica que tem em Mitroglou, e principalmente Jonas, as suas principais referências ofensivas (sem esquecer Nico Gaitán). É um Benfica mais de posse, de maior controlo e que tem em Jonas o comandante do navio de Rui Vitória. Se será melhor apenas em Maio saberemos, pois no futebol o que conta no final são os títulos.