«Sem mim, nem daqui a cem anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões». Foram estas as palavras do ex-treinador do Benfica, Béla Guttman, que, hoje, soam como uma sirene sobre os adeptos encarnados. Pelo segundo ano consecutivo, a equipa de Jorge Jesus consegue chegar à final da Liga Europa e deixar escapar o sonho de erguer o troféu.

Benfica sofreu o peso das baixas

Foi um Benfica diferente, aquele que se apresentou em Turim. Sem poder contar com Markovic, Sálvio ou Enzo Pérez, foram jogados os recursos disponíveis, mas que se revelaram insuficientes. Sem a entrada em campo pressionante e aguerrida, a que nos acostumámos por esta época, a equipa entrou nesta final procurando a sua identidade e revelando falhas preciosas, que o Sevilha não quis aproveitar. André Gomes apresentou-se longe de estar à altura do desafio de uma noite europeia, enquanto Lima acusou a pressão do palco que pisava. No final, só os jogadores com mais minutos nas pernas, como Garay, Maxi ou Luisão, puderam acreditar em trazer a taça para Lisboa.

O Sevilha enviou, desde logo, o claro aviso de que queria conquistar a medalha de ouro, com peças-chave no seu onze, como Rakitic, prontas a desequilibrar a defensiva encarnada. Mas, no final, não passaram de falsas ameaças. Embora tivessem existido jogadas de ataque no estilo espanhol bem estudado, tentando a transição rápida no contra-ataque, e mesmo com um início de jogo mais sorridente, o Sevilha não conseguiu justificar a vitória de forma clara e até ao apito final. Como, da mesma forma, a equipa de Jorge Jesus não foi organizada o suficiente, para aproveitar as tantas oportunidades que poderiam ter trazido o festejo encarnado e mudado o desfecho desta partida. Ainda assim, antes do prolongamento, era o Benfica que queria vencer o jogo.

O imprevisto Sulejmani

Em menos de dois minutos, Sulejmani, titular na equipa de Jesus, via apagada a hipótese de lutar pelo troféu. Primeiro, aos 11 minutos, sofreu falta de Fazio, que lhe auferiu um pontapé na barriga. Depois, aos 12 minutos, sofreu nova falta por Moreno, lesionando-o no ombro. Dois amarelos seguidos para o Sevilha, mas consequência mais elevada para o Benfica. Sulejmani ainda aguentou, queixoso e impaciente em campo, mas acabaria por ter que ir para o banco mais cedo. Para o seu lugar, Jesus fez entrar André Almeida, do lote escasso ao dispor.

Para além da carga psicológica para a equipa, de ter que se reorganizar quando ainda começava a experimentar o seu posicionamento, o Benfica sofreu, prolongadamente, durante a restante partida, deste desaire de Sulejmani que não soube ultrapassar. Com a entrada de André Almeida, era expectável que os encarnados procurassem um novo modelo táctico, em 4x3x3. A revelar, nos primeiros 20 minutos de jogo, um meio-campo débil para travar Rakitic, presumia-se a organização de um corredor central com três médios e, mais importante, libertar André Gomes da pesada tarefa de marcar Rakitic.

No entanto, o que se veio a verificar foi uma subida de Maxi Pereira, que surgiu no ataque por um par de vezes, e uma postura de André Gomes cada vez mais enfraquecida. Se a marcação homem-a-homem não lhe assentou como uma tarefa capaz, o português também não foi feliz nas transições que tentava, persistentemente, construir e que resultaram em constantes perdas de bola. Paralelamente, a sua conexão com Rúben Amorim também não se revelou eficaz.

Faltou o golo, vieram as penalidades

O Sevilha tornava-se, no primeiro tempo, numa equipa ilusoriamente pressionante, acabando por não concretizar o perigo que ia criando na tentativa de aproximação a Oblak. Do lado oposto, e a partir dos 40 minutos de jogo, o Benfica começou a conseguir construir jogadas de ataque, mas a ineficácia e a tensão foram sempre decisivas, guardando a baliza de Beto. Aos 39’, Luisão cabeceia por cima, na sequência de um canto; aos 45’, Beto consegue defesa ao remate de Maxi e volta a defender aos 46’; aos 71’, Rodrigo não consegue aproveitar passe de Maxi em jogada de contra-ataque; André Gomes remata debilmente aos 77’; aos 79’, Lima falha a baliza e Rodrigo falha na recarga; Lima arranca defesa a Beto aos 83’; Garay lança por cima aos 84’.

Iguais oportunidades existiram para o Sevilha, muito à custa de uma boa dupla entre Rakitic e Reyes. Contudo, a partir do prolongamento, o lema das equipas mutou e a procura da defesa de um golo adversário pareceu mais importante, do que atacar e evitar as grandes penalidades. As penalidades também poderiam ter acontecido mesmo antes do prolongamento, com o Benfica a ficar queixoso de três lances dentro da grande área guardada por Beto. O árbitro Felix Brych, nada quis assinalar.

O troféu acabou por ser entregue mediante a lotaria das grandes penalidades e, com ou sem maldições a crer, valeu ao Sevilha a exibição do português Beto, que defendeu por duas vezes. Do lado do Benfica, a derrota recai sobre as falhas mais improváveis, de Cardozo e Rodrigo. No final, a comitiva espanhola festejou em Turim, enquanto a portuguesa chorou, novamente, a perda do sonho. Desta feita, Guttmann não teve qualquer responsabilidade. Essa, atribui-se à sombra do Benfica, que marcou presença nesta final.

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